sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Dobradinha adrenalinesca

O Ultimato Bourne

Wow. Não dá pra começar um comentário sobre esse filme sem um desses. Wow. Dois é mais adequado. E como é o terceiro filme da série: WOW!

Se Christopher Rouse (talvez o astro principal da produção) já tinha se consolidado como o parceiro perfeito de Paul Greengrass, aqui ele prova mais uma vez. Não que ele precise, mas é um puta profissional. Os minúsculos microssegundos de ação que ele captura e cola, no que deve ter sido mais difícil que caçar borboletas, são de uma economia assustadora, indo totalmente na contramão da edição vigente em Hollywood, que peca exatamente pelo excesso de cortes. Aqui há talvez tantos cortes quanto, mas com uma precisão, aliada à câmera assombrosa de Paul, que torna as mais complicadas cenas de ação fáceis de acompanhar - e a filmagem do diretor não permite que essa facilidade tenha sido alcançada sem um esforço monstruoso. Belos paradoxos.

A narrativa, nunca menos que primorosa, mantém a voltagem alta, e mesmo usando-as de vez em quando, não aposta em idéias legais como muletas. O enredo é importante, mas não supera a profundidade do personagem, que ganha a atenção onde a maioria dos blockbusters atuais resolve contar como os roteiristas criaram conceitos supimpas e elos bacanudos para juntar esses conceitos. As operações de caça a Bourne são levadas intensamente, de forma bastante similar à que vemos em "United 93", com aquela causalidade que constrói um clima de tensão irretocável - e, claro, eficiente. As cenas de ação são cadenciadas de forma exemplar, e a trilha sonora quase desaparece no fundo de tanta adrenalina (bela mixagem de som), mas ainda assim a música aumenta a intensidade.

Contando ainda com Strathairn ótimo, Julia Stiles cheia de significado (seus diálogos sem palavras com Bourne são belíssimos), Joan sabiamente menos poderosa e Damon sempre visceral, o elenco só me incomodou escalando o monstro Finney num papel tão pequeno - mas bom mesmo assim. A fotografia ficou ainda melhor, e a série toda, idem, nessa continuação espetacular, o Cavaleiro das Trevas do ano passado.
Nota: 9,5

Operação França

Imperdível, para começo de conversa. Veja, depois venha ler. A penca de Oscars merecidos dá uma boa noção de o que prestar atenção (como se fosse necessário procurar qualidades): a direção absolutamente visceral de Friedkin, cujaos movimentos de câmera certamente fizeram Scorsese babar; a edição ágil e pontual, que só faz crescer a já insuportável tensão tecida pelo diretor; o roteiro, cuidadoso, que cria personagens e situações incríveis; e, claro, Hackman, possivelmente em sua performance mais icônica. A energia que ele dá a Doyle é incomensurável, uma intensidade só equiparada a sua obsessão pelo trabalho (sua busca pela justiça é envolvente exatamente por não ser explícita através de diálogos), resultando em momentos ainda mais tensos em que ele tem de respirar fundo e encontrar a calma para fazer a coisa certa. De quebra, ainda temos cenas inteiras embasadas na personalidade do protagonista, como a inacreditável perseguição automobilística, das mais insanas e inesquecíveis de todo o Cinema - a melhor que já vi, com certeza.

No campo das categorias indicadas e não premiadas, deve-se ressaltar a sutil e eficiente atuação de Roy Scheider, os efeitos sonoros bem bolados e, claro, a maravilhosa fotografia, que encontra composições, luzes e cores que sempre condizem com o tom de cada cena. Saindo do Oscar, é necessário ressaltar a personalidade da trilha sonora, a interpretação de Tony Lo Bianco como Sal, que causa uma ótima impressão, e a de Fernando Rey, um vilão que ganha ainda mais força com os créditos finais. Os bons e velhos letreiros explicativos ganham, graças à música de Don Ellis, uma carga pessimista e quase macabra, saindo do semi-documentário filmado que é "Operação França" e caindo em algo ainda mais assustador: a realidade daquela história verídica. Não tem como não se impressionar.
Nota 10.