Era como se um objeto metálico tivesse atingido o chão. Mas aconteceu de novo, e mais uma vez, e outra, e outra. Cada vez mais perto, cada vez menos parecido com uma queda. Estava começando a parecer um som programado, como se alguém estivesse fincando uma espada e se aproximando. Ou se apoiando em uma bengala de ferro.
Fosse lá o que aparecesse em sua mente, era bem improvável. Afinal, ouviria passos, ou talvez vozes também. Só para garantir, parou de caminhar e forçou o ouvido. Parou de mover as mãos, que esfregavam um pouco a calca jeans. Continuou com o único som inicial, então inclinou a cabeça. Mas, por algum motivo, ele cessou, e Fernanda só pode ouvir sua própria respiração pelas paredes insípidas do salão. Mas algo faltava.
Estava tudo silencioso demais, silencioso como nunca. Não ouvia os sons do andar de cima, nem os baques metálicos, nem o ar entrando e saindo dos pulmões do dono da bengala (‘’Suposições, apenas suposições’’ pensou). Seu ouvido apenas captava o estranho trinado do silêncio, o zumbido que o cobria e nunca permitia um momento mudo sequer. Isso deixou os tímpanos acostumados com a quietude do lugar, amortecidos pelo véu de seda derrubado sobre sua mente tensamente tranqüila.