quarta-feira, 31 de outubro de 2007

A Exposição Pt. 5

Outra coisa, nem perto de ser uma suposição, a alarmou mais ainda. O som de tempos antes aconteceu mais uma vez, mas Fernanda tinha certeza de ver a espada encostada no chão. Nesse momento, havia duas possibilidades: o homem poderia estar carregando outra coisa que produzisse o barulho incômodo, ou sua imaginação estava se transformando em paranóia. Era muito mais interessante lidar com a segunda opção, pois a primeira era uma afronta à lógica. Não conseguia pensar em um motivo para um ser humano levar duas espadas para uma bienal pós-modernista em pleno sábado. Não que importasse o que estava exposto, ou que dia da semana era; aquilo era simplesmente estranho demais.

Mas o que veria certamente ia contra todas as suas expectativas, até as que mais se encaixavam numa fantasia inimaginável. Não olhou por muito tempo - não pôde faze-lo -,e, ainda assim, viu mais do que desejaria alguns segundos depois.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

A Exposição Pt. 4

Apenas por isso, quase trançou os próprios pés e caiu no assoalho lustroso quando a aproximação do estranho recomeçou. Não mais devagar, não mais rápida; estava no mesmo ritmo de antes, com dois segundos entre cada ruído. Agora era possível distinguir de onde vinha: de trás de uma parede branca (‘’Céus, você é um gênio, garota!’’) bem à sua frente – do lado esquerdo havia a extensa parede de vidro negro, e do direito, a escadaria. Mas Fernanda já estava mais calma. Não estava com pensamentos insanos como quando havia acabado de chegar àquele andar. Já sabia que não havia porque temer qualquer coisa. Afinal, achava que alguns dos autores expostos naquele lugar podiam usar uma bengala de ferro ou sapatos com sola de metal. Acostumara-se com excentricidades.

Estava quase dando as costas para quem vinha, mas viu algo de relance, e ficou com curiosidade de saber o que era. Saciou a vontade de descobrir o que passou pela parede, mas também ficou um pouco assustada. Desta vez, ela viu o baque, viu o que caiu. Embora ‘’cair’’ não fosse uma palavra adequada. Alguém lançou aquilo para chocar-se contra o chão duro e fazer barulho. Algo que lembrava uma espada, uma lâmina. Estava bastante enferrujada, e isso era visível até dos dez metros de distância. Um calafrio percorreu sua nuca e eriçou os pelos de seu braço, quando achou que não era simplesmente ferrugem, mas sangue seco.

A idéia era absurda, mas tomou conta de sua mente em um instante.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A Exposição Pt. 3

Era como se um objeto metálico tivesse atingido o chão. Mas aconteceu de novo, e mais uma vez, e outra, e outra. Cada vez mais perto, cada vez menos parecido com uma queda. Estava começando a parecer um som programado, como se alguém estivesse fincando uma espada e se aproximando. Ou se apoiando em uma bengala de ferro.

Fosse lá o que aparecesse em sua mente, era bem improvável. Afinal, ouviria passos, ou talvez vozes também. Só para garantir, parou de caminhar e forçou o ouvido. Parou de mover as mãos, que esfregavam um pouco a calca jeans. Continuou com o único som inicial, então inclinou a cabeça. Mas, por algum motivo, ele cessou, e Fernanda só pode ouvir sua própria respiração pelas paredes insípidas do salão. Mas algo faltava.

Estava tudo silencioso demais, silencioso como nunca. Não ouvia os sons do andar de cima, nem os baques metálicos, nem o ar entrando e saindo dos pulmões do dono da bengala (‘’Suposições, apenas suposições’’ pensou). Seu ouvido apenas captava o estranho trinado do silêncio, o zumbido que o cobria e nunca permitia um momento mudo sequer. Isso deixou os tímpanos acostumados com a quietude do lugar, amortecidos pelo véu de seda derrubado sobre sua mente tensamente tranqüila.