Andou um pouco e chegou numa área cheia de esculturas inimagináveis. Mas não achava nenhuma delas mais inimaginável do que seus respectivos nomes. Várias pontes de mármore, perecendo girafas num bizarro ritual de acasalamento, receberam o título de “Semblante de um Momento”. Uma pilha de latas, desde as vermelhas e verdes de refrigerantes até as de lixo metálicas e com abas dos lados, também ornava o grande espaço destinado a esculturas. Uma pequena placa branca apontava aquilo como sendo o ‘’Espectro dos Mártires Cegos’’. E nada muito mais compreensível esperava Fernanda à frente.
Estava quase perdendo a noção do tempo, quando desviou os olhos de uma massa disforme e colorida – a obra que estava observando. Olhou o relógio, e caminhou em passos rápidos até a rampa, para encontrar Renata na saída. Mas uma passagem chamou sua atenção. Dirigiu-se para o intrigante lugar, que não lembrava de ter visitado. Lembrava, sim, de um certo espaço vazio ali, mas não tinha reparado na escada.
Nesse momento, Renata procurou a amiga para perguntar uma coisa, mas não a viu em lugar algum.
Fernanda correu para chegar mais rápido, ver as obras mais rápido e voltar mais rápido. Teve a preocupação de olhar em volta para que nenhum guarda ou monitor chamasse sua atenção. Desceu as escadas tão depressa que tropeçou e quase terminou deliciosamente rolando pelos degraus. Na verdade, se continuasse na mesma velocidade após chegar no andar de baixo, teria beijado um enorme vidro negro. Chegando lá, não achou muita coisa.
Ao virar e ir para a direita, já estava impaciente, e queria encontrar logo algo para ver. Continuou com apenas branco em sua visão, nenhuma pintura ou quadro, tapeçaria ou escultura, absolutamente nada. Apenas paredes servindo como anteparos em uma caminhada cansativa e sem sentido. Tão sem sentido que Fernanda não quis mais ficar lá. Mas, quando ia se dirigir para a escadaria, ouviu algo que não fez sentido, a princípio.