Quando sua mente realmente despertou, e seus olhos reviraram cada canto branco do teto, ela percebeu até onde imaginara coisas. Não havia subido para o térreo, como achava. Estava caída, atordoada por ter acabado de despertar. Olhou para os lados, e constatou que estava perdida, pois as paredes descoloridas nada indicavam, nada diziam, nada explicavam. Apenas confundiam mais ainda.
Lentamente, levantou-se, tomando cuidado para não faze-lo rápido demais e voltar ao chão. Quando estava ereta, mais uma vez, olhou à sua volta. Nada viu além das alvas e imaculadas paredes, que quase cegavam.
Tentou acessar a memória recente, mas não conseguiu descobrir quais lembranças eram reais e quais eram sonhos. (“O monstro, o monstro, lembre-se! Tente se lembrar! O demônio! ELE ERA REAL?”)
Vozes dentro dela surraram sua paciência, que, finalmente, tomou conta da situação. Começou a pensar sobre o “demônio”.
Resgatando pela abalada memória, Fernanda viu um relance da face cadavérica, cheia de pregos fincados na pele. O som, repetitivo e doentio, começou a ecoar em sua mente, e não parou. Tentou tampar os ouvidos, esfrega-los, chacoalhar a cabeça, andar, mas não conseguiu. O ritmo apavorante não saiu de sua mente.
Porém, quando tirou as mãos de perto das orelhas, viu que não era sua mente. O metal atingindo o chão não era proveniente de sua imaginação. Era algo próximo, quase palpável.
Sem nem pensar, torceu o pescoço e olhou para seu lado direito. Desta vez, não pôde fugir ou correr. Não pôde desviar os olhos da cena que presenciou naquele momento.