sábado, 10 de novembro de 2007

A Exposição Pt. 8

Quando sua mente realmente despertou, e seus olhos reviraram cada canto branco do teto, ela percebeu até onde imaginara coisas. Não havia subido para o térreo, como achava. Estava caída, atordoada por ter acabado de despertar. Olhou para os lados, e constatou que estava perdida, pois as paredes descoloridas nada indicavam, nada diziam, nada explicavam. Apenas confundiam mais ainda.

Lentamente, levantou-se, tomando cuidado para não faze-lo rápido demais e voltar ao chão. Quando estava ereta, mais uma vez, olhou à sua volta. Nada viu além das alvas e imaculadas paredes, que quase cegavam.

Tentou acessar a memória recente, mas não conseguiu descobrir quais lembranças eram reais e quais eram sonhos. (“O monstro, o monstro, lembre-se! Tente se lembrar! O demônio! ELE ERA REAL?”)

Vozes dentro dela surraram sua paciência, que, finalmente, tomou conta da situação. Começou a pensar sobre o “demônio”.

Resgatando pela abalada memória, Fernanda viu um relance da face cadavérica, cheia de pregos fincados na pele. O som, repetitivo e doentio, começou a ecoar em sua mente, e não parou. Tentou tampar os ouvidos, esfrega-los, chacoalhar a cabeça, andar, mas não conseguiu. O ritmo apavorante não saiu de sua mente.

Porém, quando tirou as mãos de perto das orelhas, viu que não era sua mente. O metal atingindo o chão não era proveniente de sua imaginação. Era algo próximo, quase palpável.

Sem nem pensar, torceu o pescoço e olhou para seu lado direito. Desta vez, não pôde fugir ou correr. Não pôde desviar os olhos da cena que presenciou naquele momento.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

A Expisoção Pt. 7

Era sábado, talvez um dos dias mais interessantes para alguém ir para uma exposição. Levando isso em conta, e o horário, haveria um considerável número de pessoas perambulando na grande área do térreo. Mas não havia. Sua mente protestou.

(“Como assim não tem ninguém? Primeiro você vê um demônio numa bienal, agora não vê nada! Está precisando ir a um médico, você esta ficando fodida da cabeça!”)

Mas não havia ninguém. Não havia sombras, sons, vozes. E não eram apenas as características humanas que faltavam. Nas paredes brancas onde estavam os quadros, não havia nada. Na verdade, não se via coisa alguma, viva ou inanimada, naquele lugar. O chão não tinha pegadas, marcas de poeira, sujeira, pó. Fernanda associou sua visão à que teria da estréia da construção, pois estava impecavelmente limpa. Por alguns instantes, achou aquilo lindo, lembrando do chão gasto, empoeirado e poluído em que estivera pisando alguns minutos antes.

Acordando desse devaneio, olhou por todos os lados em pânico, porque queria avisar alguém da terrível coisa que havia visto. Apenas o medo e a sensação de urgência remanesceram; o motivo de seu pavor tinha desaparecido de sua mente.
O som torturante, vindo de trás dela, da escadaria, refrescou sua memória. Não ousou olhar a criatura de novo, então simplesmente disparou, correu até encontrar uma parede onde pudesse se esconder.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

A Exposição Pt. 6

Longos pregos desapontaram numa face cadavérica, que permitia até ver os dentes, sem lábios a cobri-los. Não havia olhos, apenas um par de concavidades sombreadas. A espada, marcada de ferrugem (apesar de que já era mais fácil acreditar que, afinal, as manchas eram sangue seco), estava amarrada ao braço esquerdo por enormes gases – manchadas de marrom.

Quando aquela cabeça monstruosa virou-se para ela num brusco movimento, Fernanda apenas abriu a boca, tentando gritar. Mas nem um esboço de pavor saiu de sua garganta seca, apenas um sussurro áspero e inaudível. E certamente não adiantaria em nada ficar parada ao lado de uma escada tentando elevar a voz, quando um pesadelo semi-humano estava a alguns metros dali. Girou o corpo e subiu na maior velocidade que pôde.

Desta vez não tropeçou, pois estava mais concentrada em sair de onde estava do que qualquer coisa. Foi desacelerando a subida quando ia chegando, sabendo que a criatura (“Homem! HOMEM!”) não podia ser tão rápida. E também sabia que nenhum guarda acreditaria nela se chegasse correndo e berrando. Na verdade, pensava em simplesmente sair da grande construção dedicada à arte, sem avisar ninguém. Afinal, ninguém aceitaria a verdade: o que havia visto era uma manifestação infernal na Terra. Pelo menos era isso que corria em sua mente.

Quando chegou ao andar superior (que calhava de ser o térreo), um arrepio gélido subindo a nuca, ainda estava com dúvidas quanto a contar ou não sobre sua experiência estranha no subsolo. Mas a situação privou-a da necessidade de pensar sobre o assunto.