sábado, 30 de junho de 2007

The Brave One & Piratas do Caribe: No Fim do Mundo

É, com um cartaz e um trailer disponíveis, The Brave One já promete ser um dos melhores filmes a ser lançado esse ano! Aposto nesse filme no Oscar, embora alguns me critiquem, pois Neil Jordan já é bastante celebrado. Minha palavra final é que gênios merecem ser celebrados sempre, e Hitchcock pode não ter ganho Oscars, mas ao menos é um mestre até hoje. Um Oscar a mais ajudaria Jordan a ser lembrado como o gênio que é!
E aqui vai Piratas:

No último capítulo... Digo, no último filme dos Piratas do Caribe, Cuttler Beckett (Tom Hollander) pegou o coração de Davy Jones (Bill Nighy), podendo assim controlar o capitão do Holandês Voador. Jack Sparrow (Johnny Depp), por sua vez, foi morto pelo monstro Kraken, e Tia Dalma (Naomie Harris), Barbossa (Geoffrey Rush), Will Turner (Orlando Bloom) e Elizabeth Swann (Keira Knightley) devem ir até o Fim do Mundo para resgatá-lo do limbo. Para isso, eles buscam a ajuda do perigoso Capitão Sao Feng (Chow Yun Fat), e no encontro, Barbossa o avisa sobre a caça às bruxas que o governo inglês está promovendo contra a pirataria. O único meio de se proteger da invencível Armada inglesa seria reunindo os nove Senhores Piratas na Corte da Irmandade e libertando a deusa Calypso, que uma Corte antiga havia aprisionado em forma humana.

Embora o filme tenha quase três horas de duração, a sinopse acima o resume em sua totalidade. A única coisa que não pode ser dita é em relação às traições, que acontecem exaustivamente desde os primeiros 15 minutos até o final da projeção. Entre os vira-casacas, estão Jack Sparrow, Davy Jones, Cuttler Beckett, Sao Feng, William Turner, Tia Dalma... Bem, até o final do filme, todos os personagens trocam de lado ao menos uma vez cada. Por isso, falar sobre as surpresas o roteiro não só respeitam quem ainda não assistiu ao filme, mas também poupam dezenas de linhas no texto. A pergunta óbvia é: essas inúmeras inversões de papéis complicam o filme? Sim e não.

Os diálogos são rápidos e afiados (e nem sempre bons), e a maioria das informações está inserida nessas frases passageiras, do tipo “piscou, perdeu”. Ou seja, a chance de o espectador perder uma fala importante é enorme (ir ao banheiro, nem pensar). Em vários momentos, o roteiro perde o controle e se torna altamente confuso, em meio às traições, revelações e os incontáveis novos rostos. Por outro lado, a simplicidade reina no quesito desenvolvimento de personagens, portanto, toda a complicação, todo o calculado caos é simplesmente oco e sem propósito, já que as motivações de Will, Jack, Davy e outros não mudam, mesmo quando eles traem seus antigos aliados. Entre tantas “surpresas” no roteiro, nenhuma faz jus para realmente mudar a história, portanto, servem apenas para alongar o filme e permitir a inserção de mais cenas de ação.

Em compensação, as cenas de ação podem surpreender até quem tinha grandes expectativas. Embora as lutas à base de espada e pólvora sejam bastante divertidas, é no mar que “No Fim do Mundo” diz ao que veio. Há duas cenas em navios que se encontram dentre as mais detalhadas, bem boladas e emocionantes batalhas marítimas já filmadas, graças à belíssima direção de arte e aos efeitos visuais espetaculares. A computação gráfica foi utilizada exaustivamente, e, embora ela se torne a atração principal às vezes, sua excelência técnica é tamanha que é difícil destacar as cenas em que ela é usada. Prova disso é o visual impecável de Davy Jones, uma criatura totalmente digital que se insere entre os atores de carne e osso com naturalidade.

Davy, por sinal, é o personagem mais desenvolvido pelo roteiro. Interpretado por Bill Nighy, tão perfeito quanto em “O Baú da Morte”, o homem-polvo ganha algumas facetas a mais na última parte da trilogia. Além de ser mostrado seu lado sentimental (referente ao coração que ele trancou no baú), ele aparece em situações de dominação e até de humilhação, mas sempre com uma postura imponente e uma personalidade forte. Davy Jones demonstrou um ótimo equilíbrio entre um vilão que mete medo e que, ao mesmo tempo, não é unidimensional. Bill Nighy tem o melhor personagem, e sua atuação é certamente a melhor do longa. Infelizmente, ele é o único que se salva.

Embora o Capitão Sparrow não seja mais tão surpreendente quanto no primeiro filme, o grande talento de Depp faz o trôpego pirata roubar a cena cada vez que aparece, sempre para quebrar o gelo com sua interpretação, no mínimo, cômica. Naomie está ótima no papel de Tia Dalma, mas infelizmente ela apenas diz frases proféticas e artificiais, e mais nada. Hollander também é prejudicado pelo roteiro, já que Beckett deve mostrar apenas sua frieza britânica (mas uma intensa cena de ação o põe numa situação interessante). Geoffrey Rush reprisa o papel do primeiro filme, não adiciona nada, mas oferece mais do que já era bom. Chow, Stellan Skarsgaard e, especialmente, Keith Richards devem ser mencionados por suas divertidíssimas participações, e Bloom e Knightley, apenas citados como fracos.

O diretor Gore Verbinski foi importante para escolher e comandar o elenco, e suas qualidades profissionais não acabam aí. Ele demonstrou domínio total sobre seqüências de ação, evitando a edição rápida demais e vícios de filmagem (ele utilizou câmera lenta numa cena que ficou espetacular com tal recurso), em uma elegante homenagem aos Westerns "spaghetti", e até nas cenas de total surrealismo ele mostra seu eclético talento – errando a mão apenas no bobo aparecimento de Calypso. Todo o horror que era presente em O Baú da Morte está mais brando aqui, com uma violência elegantemente disfarçada e, muitas vezes, provinda do humor negro. No entanto, Verbinski deixa a comédia invadir muitas cenas que poderiam ser mais tensas e emocionantes. Isso chega ao cúmulo na péssima cena do casamento, certamente a pior de toda a trilogia.

“No Fim do Mundo” encerra a saga de modo satisfatório: como um filme de verão exige, tem muitas piadinhas, muita ação e um roteiro sem pé nem cabeça - particularmente sem cabeça. Embora tenha complicado tudo que podia, e mais um pouco, esse filme nos convida a simplesmente jogar a narrativa pela janela, acomodar-se na poltrona e aproveitar 3 horas (uma duração excessiva, diga-se de passagem) de ação surreal e fantasia. Embora seja levemente melhor que O Baú da Morte, a terceira parte ainda perde para o estiloso A Maldição do Pérola Negra, mas conclui a trilogia de forma divertida e barulhenta.

Nota: 6,5